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TERMINOLOGIA DO TURISMO NO PORTUGUÊS DO BRASIL

Pesquisa dos usos terminológicos do Turismo na cidade do Recife

 

Nelly Carvalho

Universidade Federal de Pernambuco, Brasil

 

INTRODUÇÃO:

 

A terminologia faz a ponte entre vários mundos, diz Maria Teresa Cabré no seu livro "La Terminología". No caso do turismo, isto se torna patente, pois a terminologia usada é padronizada internacionalmente com termos (em sua maioria) de língua inglesa. Isto facilita o entendimento e o atendimento entre agências de todo o mundo e entre usuários. Sobretudo porque a língua inglesa funciona hoje como a "língua franca" da comunicação por questões políticas e até mesmo lingüísticas. Dizia Gilberto Freyre, sociólogo brasileiro, formado em Haward, que o português tinha estruturas diabolicamente difíceis e o inglês, angelicamente fáceis. Por isso, cativava os falantes no mundo inteiro.

Os termos de língua inglesa na linguagem do turismo e em outras linguagens especializadas, funcionam dentro da estrutura da língua importadora e são usados até mesmo por aqueles que não dominam o inglês: suas frases são recheadas de anglicismo.

Por isso, é válida a observação de um aluno pesquisador na apresentação do seu trabalho: "O que diria você, se ouvisse alguém ao telefone proferindo a seguinte frase "Por favor, puxa um loc para que eu possa bilhetar o Kennedy fox papa Québec e verifique se a tarifa yankee está valendo para evitar o no-show."

Não se trata de conspiração, nem linguagem cifrada. É apenas um agente de viagem tentando confirmar a presença de seu cliente num vôo qualquer.

Verifica-se que a maior parte dos termos empregados no turismo são provenientes de língua inglesa, fenômeno explicado pelo processo de globalização e dominação americana não só em nosso país como em todo o mundo.

Ana Izabel Morais de Lima, pesquisadora portuguesa, considera que só muito morosamente os empréstimos do inglês penetram na língua corrente, permanecendo circunscritos ao domínio de experiência. Além do que é diminuto o número de usuários dos mesmos e por isso não entram no uso comum. No português do Brasil, o empréstimo não funciona desta forma. Absorvemos com facilidade o termo estrangeiro e fazemos entrar imediatamente nos usos da língua comum, com adaptações fonológicas, quando não morfológicas.

Porém, além dos termos adotados desta linguagem internacionalizada, temos os de origem vernáculas, quer sejam traduzidos, adaptados ou criados para situações novas, peculiares ao país ou região.

Pensando assim, organizamos uma pesquisa sobre Terminologia do Turismo receptivo em Recife, no mês de fevereiro, ocasião em que confluem duas grandes motivações turísticas: carnaval e verão. O corpus de pesquisa foram as publicações locais tais como: o caderno de Turismo dos dois grandes jornais em circulação na cidade, ambos gozando de conceito nacional, Jornal do Commércio, o 5º em circulação no Brasi,l e Diário de Pernambuco, o mais antigo em circulação na América Latina, além de folders e publicidades das agências de turismo locais. A equipe foi composta de alunos estagiários do curso de Comunicação Social, no 1º semestre do corrente ano (1996).

A tipologia dos termos seguiu, com adaptações, o modelo adotado por Lima (90). Foram classificados dentro dos conceitos de neologia da Língua Geral, não adotando a divisão entre neologismos e neônimos.

O termo foi analisado isoladamente, fora do contexto lingüístico já conhecido por ser linguagem turística, classificando-se de acordo com sua origem, uso, e significação.

ANALISE DO CORPUS:

Delimitada a época e o local (Recife/fevereiro de 96) os corpora (mídia escrita) foi feito o levantamento dos temos.

Eles se classificam inicialmente em neológicos e não-neológicos. Foram considerados neológicos, os termos não encontrados no dicionário de Aurélio Buarque de Holanda (1986), tomado como corpus de exclusão. Os empréstimos da língua (inglesa) estavam nos dois grupos, alguns eram neologismos, outros já eram registrados. As formações vernáculas presentes em pequeno número eram, na maioria, neologismos semânticos. Quanto às formações vernáculas regionais, raras foram as neológicas.

Quase todos os empréstimos recorreram a mais de um processo de criação lexical. Antes de comentar sobre os termos encontrados, pode-se levar em consideração o próprio termo que denomina a atividade, turismo, e seu derivado turista, empréstimos já adaptados, onde se perdeu a memória da origem. É um empréstimo indireto formado a partir de tour (francês) que entrou para o português através do inglês. Mas, no início da atividade em larga escala, no Brasil, um filólogo - Castro Lopes, condenou o termo, sugerindo para substituí-lo "ludâmbulo". Este, pela associação desagradável feita com sonâmbulo, nunca foi aceito.

1) - Os tipos mais freqüentes de adoção de termo estrangeiros foram:

a)Troncação, constituindo lexias complexas; (uma espécie de aglutinação): Fanntour, Eurailpass,

Sightseeing.

b) Prefixação em empréstimos/lexias na íntegra, decalcados ou adaptados: minibar, teleshop.

c) Formações com verbos no gerúndio do inglês: sightseeing,overbooking,camping, caravanning,

leasing, timesharing;

d) Lexias formadas pelos infinitivos dos verbos (inglês): Fly and drive, go-show, rent-a-car.

e) Lexias complexas formadas com o uso de preposições ou advérbios sem correspondência pa-

ra tradução: no-show, check-in, check-out, by-night, block of, up-grading.

f) Lexias complexas formadas de acordo com o padrão da língua exportadora, isto é determinan-

te + determinado: Late check-out, jet-lag, Welcome drink,check list, travellers check, room ser-

vice, duty-free, city tour, fullday, bed and breakfast.

g) Lexias simples: (raras porque como toda terminologia, a linguagem do turismo necessita de

especificações): Voucher, resort, lobby, transfer, gate, open, lobby, forfait, staff.

h) Siglas formadas na língua de origem (inglês) : PAX, VIP, NCO, CC, CHD.

i) Adaptações: Suite, estafe, resorte, flate, europasse, suvenir.

2) - Quanto a termos vernáculos, podem ser hibridismos, formando grupos terminológicos, de acordo

com os processos de formação da língua portuguesa.

No primeiro caso (formações híbridas): Sala Vip, vôo charter, trade turístico, tour da cidade, vôo no-stop, tarifa net, kit viagem, coquetel turístico.

Quanto às formações exclusivamente vernáculas, podemos observar que é exígua a quantidade de termos produzidos e adotados. A prefixação, a sufixação e a parassíntese foram poucos representativos.

Os processos encontrados foram:

Siglas: ABAV, DAC, VTD, OP.

Sufixação: Bilhetar, piratear, cafeteira, curista, turisteiro, manobrista, veranear, milhagem, localizador.

Troncação (Aglutinação) : turismólogo, aeromoça, rodomoça, ferromoça, aeroturismo, ecoturismo.

Mudanças semânticas: Este é o processo mais rico dentro das formações vernáculas. As mudanças semânticas estão presente sobretudo nos grupos terminológicos ao qual dão origem. Perna, classe executiva, programa, pacote, bilhete, ponte aérea, operadora, visto, alta estação, baixa estação, conscientização turística, escala, lembrança, temporada, meia pensão, pensão completa, vôo de cabotagem, tarifa ponto a ponto, conexão, motel, endosso, parte terrestre, parte aérea. Alguns termos são recorrentes na formação de lexias: tarifa, temporada, estação.

Porém os de mais alta freqüência são os termos turismo e turista formando lexias novas como turismo de aventura, turismo ecológico, turismo sexual, turismo de habitação, turismo de campo, turismo praiano.

Entre os formados com turista encontramos: turista micreiro, turista veranista, turista esportista, turista de 3a. Idade, turista folião, este último já dentro dos usos da linguagem local, bem como o turista sexual.

Quanto aos usos regionais, observados a partir do lugar e da época de recolha de termos, foram poucos. Entre eles estavam algumas referentes a turistas, como o já citado turista folião (aquele que viaja para o Recife para brincar o Carnaval) e Bloco do Turista (Agremiação de Carnaval que acolhe o turista folião). Além desses surge o termo Recifolia (troncação) significando o carnaval fora de época no Recife e várias formações interessantes. Micareme do (francês) meio da quaresma é a festa imediatamente após a semana Santa (sábado de aleluia) no Brasil. A partir deste empréstimo, ganhando espaço no turismo local, forma-se primeiramente a aglutinação Micareta - Carnaval em Feita de Santana/BA. A partir de então como chamamento turístico, formaram-se vários termos, cada vez mais numerosos: Micarande (Carnaval de Campina Grande-PB), Micaru (Carnaval de Caruaru-PE), Micaribe (Carnaval de Camaragibe-PE). Além desses o Carnatal (Carnaval de Natal/RN) e Maceió Fest (Carnaval de Maceió-AL), todas elas cidades do Nordeste. No Carnaval do Recife, com formas de atrair o turismo, temos o Recife Alto Astral (clima carnavalesco na cidade); nome dos ritmos: frevo (corruptela de ferver) e passo (dança que acompanha a música) com os derivados frevar, frevioca (orquestra de frevo) e passista (dançarino de frevo) além de maracatu (do banto) e caboclinhos (do termo caboclo + diminutivo, dança de origem indígena) e os tipos de agremiação carnavalesca: clube , bloco, troça carnavalesca, escola de samba (copiados do Rio).

As "mortalhas" são roupas vendidas aos turistas para participarem dos blocos, além de kits do folião, que dá livre acesso aos grupos carnavalescos para brincar.

CONCLUSÃO:

O corpus levantado não foi amplo, mas foi suficiente para perceber o tipo de formação adotado pela terminologia do turismo. Apesar do uso de termos emprestados da linguagem internacional, alguns são criados dentro dos próprios limites da língua portuguesa e poucos são fruto do regionalismo.

Não podemos perder de vista que a pesquisa foi feita em agências de viagens para saber quais os termos realmente sancionados pelo uso e não apenas termos que constam do acervo de glossários ou listagens terminológicas, isto é, como virtualidades de uso.

A neologia formal vernácula mostrou-se pouco produtiva. O vocabulário do turismo recorre com grande parcimônia às potencialidades que o sistema da língua oferece. A relativa simplicidade dos mecanismos de criação de novas unidades no domínio da experiência estabelece um percentual elevado de empréstimos ao inglês (cerca de 80%).

A baixa freqüência de adaptações gráficas/fonológicas revela a dificuldade da língua portuguesa de penetrar nesse domínio quando se trata de nomear a atividade globalizada. Isto fica evidente pelo pequeno número de formações vernáculas, sendo bem mais freqüente a neologia semântica.

 

BIBLIOGRAFIA:

 

CABRÉ, Maria Teresa. LA TERMINOLOGIA. Editorial Antártida. Barcelona. 1993.

CARVALHO, J. Mesquita de. DICIONÁRIO PRÁTICO DA LÍNGUA NACIONAL. Porto Alegre. 4a.

Ed. Globo. Vol. I. II. 1985.

CARVALHO, Nelly Medeiros de. TERMINOLOGIA TÉCNICO-CIENTÍFICA. ASPECTOS LINGUÍSTICOS E METODOLÓGICOS. Editora Universitária. UFPE. Recife. 1991.

LIMA, Ana Izabel Morais. ESPECIALIDADE DA NEOLOGIA NO VOCABULÁRIO DO TURISMO.In co-

lóquio de Lexicologia e Lexicografia. 20 a 27 de junho de 1990. Lisboa - Portugal.

RONDEAU. Guy. INTRODUCTION À LA TERMINOLOGIE. Gaëtan Morin Éditeurs. Québec. 1983.

 

FONTES :

Jornal do Commércio, Caderno de Turismo e Lazer (diversas edições).

Diário de Pernambuco, Caderno de Viagem (diversas edições).

Revistas Brasil Travel News, (diversos números)

Manual do Operador Recife Brasil, (pela Prefeitura do Recife).

Pernambuco Brasil Turístico 94/95, (pela Secretaria de Turismo).

Brasil Pernambuco Welcome, (Guia Turístico 1995, pelo Governo de Pernambuco).

Obra de consulta (Corpus de exclusão) Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Aurélio Buarque de Holanda. 1986.

 

 

GLOSSÁRIO:

 

A

Abav - É a sigla da Associação Brasileira das Agências de Viagens. Existe uma representação em cada Estado.

Airpas - Passe aéreo vendido pelas companhias para vôos regionais no exterior. Pode ser comprado nas agências de viagens do país com tarifas especiais para estrangeiros.

Alfândega - ("customs") - Departamento da Receita Federal encarregado de vistoriar bagagens e mercadorias em trânsito. Cobra taxa dos passageiros que ultrapassam o limite de U$$ 500,00 para compras no exterior.

B

Bed & Breakfast - É o café da manhã incluído na diária. Mas também pode ser um conceito próprio de hotelaria para classificar hotéis econômicos, pequenos, que servem apenas café da manhã.

Budget - Tipo de hotel econômico encontrado no exterior.

C

Câmbio - Operação de conversão de valores expressos em moeda de um país pelo equivalente em moeda do ouro.

Cartão de embarque - Documento entregue pela companhia aérea, contendo os principais dados da passagem, com destino, nome do passageiro, poltrona e os números do vôo. Deve ser apresentado nos acessos de embarque.

Cash - Pagamento à vista de uma passagem aérea ou pacote.

CHD ou CH - Abreviação de child (criança) usada para passageiros entre dois e 12 anos incompletos.

Charter - Vôo fretado, mais barato que o regular, mas com várias limitações. O passageiro não pode, por exemplo, remarcar datas da viagem ou ter o bilhete endossado por outra companhia.

Check-in - É a apresentação para embarque em vôo ou para hospedagem na recepção do hotel.

Check-out - Pagar a conta do hotel.

Conexão - Troca de avião.

City tour - Passeio pelos pontos turísticos da cidade.

D

DAC - Sigla do Departamento de Aviação Civil do Ministério da Aeronáutica. Fiscaliza horários de vôos, o grau de treinamento dos tripulantes e a infra-estrutura dos aeroportos.

Duty-free shop - Lojas onde não é cobrado o imposto governamental e, portanto, os importados são mais baratos. Nos aeroportos brasileiros cada passageiro tem direito a gastar U$$ 500,00.

E

Endosso - Transferência do dinheiro de transporte de um passageiro de uma companhia aérea para outra.

Escala - Parada do avião para embarque e desembarque. Na escala técnica, a parada acontece para abastecimento da aeronave, sem entrada ou saída de passageiro.

Eurailpass - Passes ferroviários para a Europa, com tarifas especiais para estrangeiros. Vendidos no Brasil.

Early check-in - Permissão para hospedagem no hotel antes do início da diária.

F

Finger - Estrutura metálica acoplada a porta do avião, dispensando o uso de escadas móveis para o embarque e desembarque.

Forfait - Pacote individual montado por uma agência exclusiva para um passageiro ou grupo pequeno.

Fly and drive - Pacote turístico que inclui avião e carro ou carro e hotel.

G

Gate - Portão de embarque ou desembarque.

GN-10 - Tarifa promocional, com prazo estipulado para permanência no destino.

Go show - Embarque através da lista de espera.

I

INF ou IN - Designação para criança entre 0 e 2 anos incompletos.

IVA - Imposto sobre Valor Agregado cobrado por alguns países, que pode ser abatido de compras ou serviços pagos por turistas (em geral, os descontos ficam entre 6,5% a 20% sobre o preço normal).

J

Jet lag - Estresse físico e psicológico que um passageiro sente devido a mudança de fusos horários e a viagens mais longas.

L

Late Check-out - Permissão para que o hospede saia do hotel após o término da diária.

Leasing - É um sistema semelhante ao aluguel de carros, bastante utilizado na Europa, só que o turista pode "comprar" um veículo zero-quilômetro das montadoras. Sem despesas extras, custa cerca de 30% menos que o aluguel de carro.

Localizador - Código fornecido pela companhia aérea ao passageiro após a reserva por telefone. É usado para emissão de passagem.

M

Meia-pensão - Quando o hotel inclui na diária duas refeições.

Milhagem - Sistema utilizado pelas companhias aéreas para premiar os passageiros mais freqüentes.

N

NCO - Crédito que a companhia aérea dá ao passageiro em função do cancelamento de uma viagem.

No show - É quando o passageiro não comparece para o embarque, mas não cancela a reserva na companhia aérea ou locadora de carro. No caso do avião, pode remarcar o bilhete sem nenhuma taxa adicional. Já na locadora, a reserva é cancelada automaticamente.

O

Overbooking - A companhia vende mais lugares do que a capacidade do avião. Quando isso ocorre, alguns passageiros, mesmo com reserva confirmada, não embarcam.

Open - Passagem aérea sem data marcada para viagem.

P

PAX - Abreviação de passageiro.

Ponto a ponto - Tarifa promocional para o exterior, com algumas restrições. As datas são previamente marcadas e há tempo estipulado de permanência.

R

Receptivo - Quando um guia de viagem ou profissional de agência recebe os turistas no aeroporto para levá-los ao hotel.

S

Sightseeing - Visita aos pontos turísticos da cidade.

Stand-by - Ficar na espera.

T

Time sharing - Sistema de tempo compartilhado. O viajante, ao invés de pagar a diária, compra o apartamento do hotel.

Translado - Serviço de transporte entre o aeroporto e pontos aos hotéis.

Traveller’s check - Cheque de viagem que pode ser comprado em qualquer casa de câmbio do país com a apresentação de passaporte e passagem aérea. É aceito na maioria das lojas, hotéis e restaurantes do mundo.

U

Upgrade/ing - Mudar para uma classe melhor no avião (ou para um apartamento de categoria superior, no caso de hotel) sem pagamento de taxa adicional.

V

Visto (visa) - Autorização fornecida pelo consulado para a entrada do país.

Vôo sem escalas (non stop) - Vôo sem nenhuma parada, nem mesmo escala técnica.

VIP - Abreviatura de very important person, termo utilizado para designar um atendimento ou serviço classe A.

Voucher - Documento que o passageiro leva para o exterior, comprovando que foi feita uma reserva de hotel, carro ou pré-pagamento no Brasil.

 

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